20 de novembro de 2013

Artigo | O novo rumo das adaptações


O jornalista Felipe Demartini dedicou seu precioso tempo para escrever um artigo especial para esta seção, onde fala sobre as mídias adaptadas para os cinemas e que fatores acarretaram na mudança (e evolução) da indústria. É com imenso prazer e agradecimento que apresento o artigo "O novo rumo das adaptações":


Super Mario Bros., lançado em 1993, deu o pontapé inicial em um estigma que perdura até hoje: adaptações de jogos para o cinema sempre são ruins. Por mais que você adore os longas de Resident Evil ou acredite piamente que Terror em Silent Hill foi fiel às histórias contadas pela Konami nos consoles, é impossível negar que, na visão de executivos e público, transformações de jogos em filmes estão em um patamar inferior de Hollywood.

Essa ideia, porém, não é de errada de forma alguma. Para cada adaptação considerada interessante, como o já citado Terror em Silent Hill ou Resident Evil: O Hóspede Maldito, temos toneladas de filmes como Postal, Alone in the Dark, Doom ou Double Dragon. Todos frutos de uma combinação amaldiçoada que reúne o desconhecimento das obras originais, produções realizadas a toque de caixa e uma vontade frequente de ganhar dinheiro fácil.

Usufruindo da marca


É muito fácil imaginar porque, para os executivos da indústria do cinema, transformar jogos em filmes é uma barbada. Vamos pegar o exemplo do próprio Resident Evil, uma série que, segundo os números mais recentes, já vendeu mais de 56 milhões de jogos em todo o mundo. Para os sujeitos de terno que comandam aquilo que é exibido nas telas dos cinemas, isso se traduz em centenas de milhões de dólares e um público cativo, que segue a franquia onde ela for.

Por que não aproveitar de todo esse potencial e levar a saga para uma nova mídia? É um bom negócio para a Capcom – já que a produtora vende os direitos por uma quantia milionária e ainda aproveita da atenção gerada para promover os próprios produtos – e também para o estúdio escolhido, que lucraria alto e teria uma potencial franquia nas mãos. No caso de Resident Evil, estamos falando da ConstantinFilms.

Um diretor disposto a trabalhar de acordo com o que pede a produtora que o contratou, aliado a atores sem muita fama – e pouco cacife para discutir sobre o roteiro – e uma campanha de marketing certeira são os ingredientes finais para uma adaptação de sucesso. Se o resultado for de baixa qualidade, quem se importa? O que vale mesmo são os dólares entrando e a ideia de que adolescentes de todo o mundo lotarão as salas na esperança de ver seus jogos preferidos na telona.

Essa sequência de fatos, com alterações, pode ser aplicada à esmagadora maioria das adaptações de games para o cinema. É o caso de Resident Evil, que teve o inflexível George Romero substituído por um Paul Anderson parceiro do produtor Jeremy Bolt, ou Street Fighter, que transforma a rivalidade entre personagens cheios de histórias em uma simples guerra de um exército do bem contra um tirano.

Os resultados desagradáveis vistos na tela também têm a ver com o estado da própria indústria. Para nós, que acompanhamos tudo de perto, games já têm status de arte há algum tempo. Já quem está de fora, porém, pensava se tratar brincadeira de criança e mero entretenimento até bem pouco tempo, quando jogos começaram a ter faturamentos e orçamentos maiores que muito blockbuster.

O público, também, não gosta de ser enganado. E aquilo que antes parecia ser uma mina infinita de ouro foi aos poucos se tornando algo mais complexo. Enquanto a internet criticava duramente cada uma das adaptações lançadas, a bilheteria delas caía gradativamente, modificando a postura dos produtores e também das próprias empresas de jogos, não mais interessadas em simples licenciamento e também dispostas a obter uma parcela dos lucros.

O exemplo de fora


Vale lembrar que o estigma das adaptações ruins não se aplica apenas aos videogames. Quadrinhos e livros também sofreram grandemente desse mal, brindando o mundo com “pérolas” como a franquia cinematográfica do Quarteto Fantástico, Demolidor ou as desastradas transposições de obras como As Viagens de Gulliver e Eragon.

Nesse meio, porém, a visão de todo um potencial desperdiçado foi clara e as detentoras dos direitos originais ficaram mais espertas. Observando os filmes do Homem-Aranha piorando cada vez mais enquanto seus X-Men se tornavam uma confusão cronológica, a Marvel foi a primeira a tomar uma atitude.

Disposta a construir um universo coeso nos cinemas, a Casa das Ideias abandonou o sistema de licenciamento que funcionava até então e investiu em parcerias com estúdios, tendo voz ativa em roteiros, produção e lançamento dos longas de seus heróis. A empreitada iniciada em Homem de Ferro deu certo, permitiu que a editora abrisse seu próprio estúdio de cinema e gera frutos milionários até hoje.

Mas, acima de tudo, os fãs estão felizes. Existem os puristas e os fanáticos, que criticam os longas do Marvel Studios pela falta de fidelidade ou simplificação de conceitos, mas ainda assim, não dá para negar que, finalmente, temos bons filmes de heróis. Aventuras como Os Vingadores são de encher os olhos e, para a maioria de nós, vale totalmente o alto preço do ingresso.

Começando a mudar


O exemplo da Marvel, que já está sendo seguido por outras empresas, também teve seus efeitos no mundo dos games. A Ubisoft foi a primeira a declarar uma mudança de atitude com relação às suas adaptações. Em vez de ceder direitos para terceiros, a companhia também iniciou seu estúdio cinematográfico para tocar os próprios projetos.

Apesar de ainda não contarem com trailers ou imagens de divulgação, o primeiro longa baseado nas franquias da desenvolvedora francesa já está em andamento. Trata-se de Assassin’sCreed, que coloca o ator Michael Fassbender no papel principal e também na cadeira de produtor. O lançamento está previsto para 2015 e a expectativa é de um filme que, pela primeira vez, realmente faça jus à franquia à qual pertence.



A ElectronicArts, recentemente, também caminhou no mesmo ritmo. Apesar de ainda não ter iniciado seu próprio estúdio, deu às mãos à DreamWorks para a produção de Need for Speed, uma adaptação cinematográfica da franquia de velocidade. O filme teve trailer divulgado recentemente e tem Aaron Paul, de BreakingBad, liderando o elenco. Apesar de não ser visto pelos fãs como uma esperança, é mais um passo na direção de um maior controle criativo nas adaptações de games.

Caso tais adaptações realmente agradem, a tendência é que a gente veja cada vez mais ações do tipo. A iniciativa da Marvel motivou a DC a fazer o mesmo e planejar a chegada de seu próprio universo às telas. Tudo indica que as desenvolvedoras de jogos sigam o mesmo caminho. Mas não se esqueça: o objetivo aqui, ainda, é obter as notas que estão lá descansando na sua carteira.

Sobre Felipe Demartini
Felipe Demartini é jornalista e encontrou nos games a melhor combinação entre trabalho e lazer. Atualmente, escreve como colaborador para o site Techtudo e faz planos para dominar o mundo.

Créditos do fanposter de "Assassin's Creed": boup0quot
Curitibano, 21 anos. Administrador dos sites Cine 3D Brasil, Lara Croft Daily, Lorics Brasil e Resident Evil Space. Amante de filmes e literatura em geral.

3 comentários:

  1. Muito bom Demartini, sempre apresentando o conteúdo de uma forma concisa e incrível. Eu acompanho o seu trabalho desde a NZN e posso dizer que você continua nos surpreendendo com seus textos.

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  2. Valeu rapaz. E valeu também ao Contado pelo espaço =DD

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  3. Demartini, um dos melhores jornalistas que já vi, nos surpreende a cada artigo. Parabéns por mais um ótimo trabalho, cara =D

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